quinta-feira, 18 de abril de 2013

POESIA....

MEU CUSCO OVERO
Luiz Carlos Barbosa Lessa

Eu tinha um cusquinho overo
quando eu era piazito.
Ele era tão bonito,
tão bonito que nem sei!
É buenacho, companheiro,
pois no serviço campeiro
era cachorro de lei.

Onde eu andava, ele junto...
Pra arrastar água, passear,
buscar as vacas - em tudo -
Mosquito sempre ao meu lado
num trotezito pulado...
-Oh! guaipeca macanudo.

E peleador que era o cusco!...
Um dia peleou solito
com os viadeiros do Tito...
-Deus do ceu! Virgem Maria!
Eu tive só que apartar
senão eles iam se matar...
mas fugir? ah! não fugia.

Bueno, encurtando o caso,
eu com franqueza te digo
que o meu melhor amigo
aos tempos de piazito,
o mais fiel companheiro,
entre todos o primeiro,
foi meu cusco Mosquito.

Certa vez...- faz muitos anos!-
a estância se alvorotou
com a chegada de um doutô
que vinha ver o patrão.
E foi essa vez primeira
que um auto - que barulheira -
pisou naquele rincão!

Fiquei bombeando escondido
lá no fundo da mangueira
com medo da roncadeira
que fazia o automóvel.
Parecia uma tormenta
que lá bem longe rebenta...
lá longe, na Serra, chove...

Mas o Mosquito, esse não!
Achou que era bandalheira
aquela tal barulheira
bem na casa do patrão.
-era assim que se ia entrando?!...
E já se tocou acuando,
pra riba do animalão.

Mas o auto não parou...
O Mosquito enbrabeceu
e bem pra frente correu,
procurando uma peleia...
Nem lhe conto...Foi só um grito...
e lá ficou o Mosquito
esmigalhado na areia...

Chorei muito, amigo velho...
Eu perdera o meu Mosquito,
aquele cusco bonito,
tão bonito que nem sei!
Depois peguei duma enxada
e, desviando da estrada,
abri uma cova e o enterrei.

Quase botei uma cruz
ali donde ele ficou...
mas um peão me alembrô
que cruz é só pras pessoa.
Ele bem que merecia!...
Tinha muito mais valia
que muito defunto à-toa!

Já que cruz não tava certo,
fui até uma coronilha,
fia ali uma forquilha,
e enterrei donde ele estava.
Finquei no chão com firmeza
pra que ficassE em defesa
do cusco que eu tanto amava.

E a forquilha inda lá está
lembrando o meu cusco overo,
e recordando o cincerros
da tal civilização
que um dia entrou no meu pago
e já foi fazendo estrago,
entristecendo o rincão.

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