TRABALHO REALIZADO PARA O XVII TCHÊNCONTRO REGIONAL DA 3ª RT REALIZADO PELOS PEÕES E PRENDAS DO CTN SINOS DE SÃO MIGUEL
“ Com licença, meus senhores
vai cantar um missioneiro
Com manhas de literato e o
tino de bom fronteiro...
Total, não há melhor sorte do
que nascer guitarreiro.
Me desculpem meus senhores,
esta audácia missioneira,
Se o ventre da minha guitarra
fecunda notas campeiras...
Total,cantava sozinho pras
estrelas caminheiras.
Me perdoem, meus senhores,
meu saber pequenininho,
A pampa, apesar de grande, me ensinou a viver sozinho...
Se a pampa por entre flores
tem tacurús nos caminhos.
Me faço de “chancho rengo” no
meio da sociedade,
Já não sofro mais com os
outros, hoje entendo a humanidade...
Total, por ser
guitarreiro aprendi barbaridade.
Com licença, meus senhores,
vou terminando a pajada,
Cantando sou perigoso porque
a verdade me agrada
E é melhor ser guitarreiro do
que ser pouco ou ser nada!”
(Noel Guarany)
Sumário
INTRODUÇÃO
I – “ O cantor da Bossoroca, que canta com galhardia”.
II- A história de Noel Guarany.
III- Surge o cantador
missioneiro
DESENVOLVIMENTO
IV- A voz missioneira e as missões de Noel Guarany
V- A importância de Noel para a musicalidade gaúcha e
missioneira.
VI-Homenagens e tributo a Noel Guarany: Como tudo começou
VII- Bossoroca, a “ Buena
Terra” de Noel
VIII- Discografia de Noel Guarany
CONCLUSÃO
X-“ Eu não sou um cantor mitológico, eu existo.”: O legado
imortal do eterno “Cantor da Bossoroca”.
I
– “
O cantor da Bossoroca, que canta com galhardia”.
Nascido na terra vermelha
da Bossoroca, na época ainda distrito da velha São Luiz Gonzaga, Noel Borges do
Canto Fabrício da Silva, ou simplesmente Noel Guarany foi um dos mais
importantes cantores e pesquisadores do Rio Grande do Sul, e principalmente da
história e música missioneira, com um estilo próprio, Noel alcançou destaque
cantando as coisas simples da sua terra, sua vida e sua gente.
Durante muitos anos
viajou para a Argentina e outros países do Mercosul, pesquisando subsídios em
busca de uma vertente para a música nativista e missioneira, teve como mestre o
cantor Argentino Luna, grande ícone de seu país. Voltando ao Rio Grande, Noel
começou a divulgar seu estilo, cativando inúmeros admiradores. Sempre foi um
contestador e não se dobrava a mídia imposta pelas gravadoras, porém ainda
assim, gravou alguns trabalhos de grande importância na história da
musicalidade nas missões.
“Noel Guarany canta
Aureliano de Figueiredo Pinto, foi um dos grandes trabalhos feitos por Noel, no
qual aliava sua sensibilidade musical com a expressão poética de Aureliano, e
que marcou de vez a história do cantor da Bossoroca que cantava com galhardia.
Mesmo após sua morte, sua obra ainda emociona
gerações, com versos por vezes melancólicos, ou contestadores mas sempre
com aquele sentimento de amor a terra vermelha que o viu nascer, Noel Guarany
deixou na imortalidade musical a lembrança do eterno Cantor da Bossoroca.
I
– A
história de Noel Guarany
Noel Borges do Canto Fabrício da Silva, o Noel
Guarany, nasceu no dia 26 de dezembro de 1941, em Bossoroca, então distrito de
São Luiz Gonzaga, na região das Missões, no Rio Grande do Sul, e viveu até a
adolescência, além de sua terra natal, em Garruchos e São Luiz Gonzaga.
Filho de João Maria
Fabrício da Silva e Antonia Borges do Canto, sua descendência paterna era
ligada a José Fabrício da Silva, italiano, que veio de São Paulo e recebeu uma
sesmaria de campo na região de Bossoroca, onde se estabeleceu em 1823. Pelo lado
materno, descendente de Francisco Borges do Canto, irmão de José Borges do
Canto , que recebeu várias quadras da sesmaria na região das missões. Francisco
nasceu em 1782 e foi estancieiro em São Borja.
Os Borges do Canto
tiveram grande influência e importância na formação das fronteiras do Rio
grande do Sul, inclusive, José Borges do canto participou da conquista dos Sete
Povos das Missões, cuja rendição dos espanhóis ocorreu em13 de agosto de 1801,
capitulação essa endossada por Canto.
Noel, em 1956, com quinze
anos de idade, aprendeu tocar sozinho seu primeiro instrumento, um violão com
apenas três cordas, depois acordeom. Somente mais tarde passou a usar o violão
que se transformaria em seu companheiro inseparável, instrumento com o qual
desenvolveu uma técnica própria de tocar.
Em 1960 emigrou para a
Argentina, onde trabalhou como tarefeiro de erva-mate, lenhador e balseiro.
Esteve em Buenos Aires, depois foi para o Uruguai, Paraguai e Bolívia, lugares
onde conviveu com muitos músicos, aperfeiçoou sua arte no tocar violão e
aprendeu muito sobre a cultura musical desses países.
Entre 1960 e 1968,
peregrinou por todos os países do Prata e por estâncias do Rio grande do Sul,
tocando, cantando e aprofundando seu conhecimento sobre a cultura regional.
Nessa época gravou um compacto simples, com as músicas “Romance do Pala Velho”
e “Filosofia de Gaudério”, acompanhado pelo cantor, compositor e músico
missioneiro Cenair Maicá, com o qual se apresentava em festivais na Argentina.
Em 1970, Noel e Cenair
venceram o VII Festival do Folclore Correntino, em Santo Tomé, na Argentina,
com a música “Fandango na Fronteira”, sendo muito elogiados pelo diretor da
Rádio L.R.A. 12, em vista das participações em dois especiais naquela emissora
e do grande destaque e sucesso que conquistaram.
Em 1971, Noel gravou seu
primeiro LP, “Legendas missioneiras”, que teve como parceiros os gaúchos Jayme
Caetano Braun, Glênio Fagundes e Aureliano de Figueiredo Pinto. Nesse ano e no
ano seguinte, viajou por vários estados, fazendo apresentações e divulgando o
disco.
Em 1972 casou com Neidi
da Silva Machado, missioneira de São Luiz Gonzaga, e passou a residir em Porto
Alegre, para ficar mais próximo dos meios de divulgação.
Em 1983, quando morava em
Itaqui, escreveu uma carta aberta para a imprensa, expressando o seu
descontentamento com o descaso dos órgãos público para com a classe dos
artistas que gravavam discos. Finalizou a carta dizendo que pararia de cantar
até que as autoridades tomassem providências a respeito do assunto.
Em 1984, fixou residência
em Santa Maria, local onde morou até o dia de sua morte. Nessa cidade fez
contrato com uma produtora para realizar uma série de espetáculos na região
centro do estado. Também foi nesse ano que a gravadora RGE lançou o LP “ O
Melhor de Noel Guarany” e que foi reeditado o LP “Payador, pampa e guitarra.”
Em 1985 se retirou dos
palcos, atitude coerente com o que afirmara na carta aberta que divulgou para a
imprensa em 1983.
Nos anos seguintes, Noel
permaneceu recolhido em seu autoexílio, em Santa Maria. A imprensa de todo o
estado, os colegas artistas e os amigos
questionavam a ausência do ídolo missioneiro. Sua vida seguia uma via- crúcis,
com a doença que cada vez mais se acentuava e que aos poucos lhe tirava toda a
atividade motora.
No dia 6 de outubro de
1998, com 56 anos de idade, Noel Guarany faleceu na Casa de Saúde de Santa
Maria. Seu corpo foi transladado para o município de Bossoroca, sua terra
natal, onde hoje repousa em um mausoléu especialmente construído para abrigar
os restos mortais de seu filho mais popular, que morreu autêntico como sempre
viveu.
II- Surge o cantador missioneiro
Na época o sucesso no
rádio era “Coração de Luto”, “Chote Soledade”, “Gaúcho de Passo Fundo” do
Teixeirinha e “ Para Pedro” de José Mendes, o rádio por sua vez, vivia a martelar alienações desleais ao povo
sul-americano e grandes cantores entraram no mercado, violentamente, que o próprio
Sebastião Silva, entre outros, começou a usar pseudônimos norte americanos,
como Dick Farney, procurando dessa maneira vender discos como o Frank Sinatra e
outros grandes nomes e ídolos estrangeiros. Além dessa invasão cultural
liderada pelas gravadoras multinacionais
, outro atrito existia no Rio Grande do Sul, devido às diferentes regiões como
por exemplo a teuto-rio-grandense , com suas polcas e bandinhas, a Ítalo/rio-
grandense, com a linha melódica
estilizada dos pioneiros do acordeom, da década de 30,década de ouro do rádio
sul- americano, onde podemos citar o precursor deste instrumento, que foi o
“Cabo-Laranjeira”, do qual nunca se soube o nome ( sabe-se que desapareceu na
Coluna Prestes, após a epopeia da grande marcha), mas ficaram como exemplo de
seu pioneirismo Tio Bilia, Reduzido Malaquias, Dedé Cunha e tantos outros.
Começou então, a surgir
com muita força, nas Missões, a música dos irmãos Bertussi, com dois acordeons,
totalmente inautêntica, mas muito apreciada para bailes nos CTGs que estavam
proliferando desmedidamente. Não havia músico no Rio Grande do Sul que não tocasse uma música dos Bertussi. Começaram também a aparecer as
duplas, como os Irmãos Teixeira, Primos Peixoto, Gauchinhas Missioneiras,
irmãos Moreira e um sem fim de imitadores dos Bertussi.
Vendo a forte influência
norte americana praticamente acabando com a cultura gaúcha, chegando-se ao
ponto em que não precisava mais se cantar, bastava um gaiteiro para armar-se barulhos e peleias com algum
gaúcho de pele indiática, mal olhado pela sociedade e pronto. Notando essas
barbáries e distorções culturais, Noel começou a condenar ausência do que era
de fato nosso. Questionava-se quanto ao fato
de quem defenderia o patrimônio histórico cultural das missões, tão rico
em fatos históricos e tão rico em legendas, decisivas no contexto de
entrelaçamento latino-americano e um sem fim de riquezas a clamar por uma
manifestação lírica de defesa ao consumo da intelectualidade do povo.
Noel Guarany resolveu
retratar a música missioneira, saiu aos grandes centros procurando infiltrar a
música das Missões e sensibilizar os intelectuais da época, e aos poucos foi
conseguindo com que a música missioneira fosse escutada. A casa do poeta Rio-grandense
colaborou muito para essa difusão da
música missioneira, assim como foram surgindo vários apoiadores abraçados na mesma causa de defesa do
patrimônio histórico-cultural regional , como Cenair Maicá, Pedro Ortaça, entre
outros, e isso foi dando a Noel Guarany uma única certeza, ele seria o cantador
da sua gente, do seu chão vermelho Guarany, que como ele dizia : “ _ Vou cantar
a minha terra!”. Surge aí então aquele que seria um ídolo na música regional
das missões, Noel Guarany, o “Cantador Missioneiro, que canta sua terra.”
IV- A voz
missioneira e as missões de Noel Guarany
Noel Guarany, com a
proposta de cantar sua terra, conseguiu levar a música missioneira por lugares
inimagináveis.
Jornalistas de todo o
Brasil, apontavam Noel como o cantador da autêntica música missioneira, entre
suas chimarritas e milongas contava a história de seu chão, de seu povo
Guarany. Aos poucos a música de Noel conquistava o público, esteve em São Paulo
onde cantou de graça para estudantes na Fundação Getúlio Vargas, mas também foi
censurado e proibido de realizar um show no Anhembi. Sempre com a ideologia de
lutar contra a descaracterização que a música brasileira vinha sofrendo, Noel
percebia que não era só a música estrangeira que possibilitava isso, mas também
as gravadoras com o intuito de sempre venderem mais, com isso alguns artistas
que buscavam fama e dinheiro, não se importavam se o que cantavam era autêntico
ou não, diferente do pensamento de Noel Guarany, que se preocupava com a
cultura e não tinha compromisso com
gravadoras e a massa popular consumidora.
No início da carreira em
1971, ele acreditou que as gravadoras pudessem divulgar suas músicas, gravando
então, três LPs, um na RGE (“Legendas Missioneiras”), outro na Fonogran
(“Destino Missioneiro”), dois anos depois, e o terceiro na Odeon (“Noel Guarany
Sem Fronteiras”), em 1975. Porém os discos não foram divulgados, vendidos ou se
quer foram pagos os direitos autorais a Noel, isso fez com que o cantor
rompesse com as gravadoras e cantasse para os jovens, quase sem cobras nada.
Posteriormente,
financiado pelo Centro Nativista Gaspar Silveira, de Bagé, entidade que
estudava o folclore, Noel gravou mais um LP “Payador,Pampa,Guitarra”, a edição
do disco na época custou cerca de 400 mil cruzeiros, cujo valor foi dividido
entre os associados da mesma entidade. Seguindo nas pesquisa do folclore das
Missões, cada vez mais tinha a certeza que as raízes da música tinham sido
deturpadas, assim como como havia acontecido com a guarânia paraguaia, desde
que , na década de 30, inventaram a polca paraguaia. No princípio a guarânia
era lenta, nostálgica, lírica, reunindo toda a alma dos índios da América
Latina e por influência das gravadoras
apressaram o ritmo com o objetivo de venderem mais, e para Noel, era
esse o caminho que estava seguindo a autêntica música gaúcha e missioneira.
Grande difusor da milonga
gaúcha, em suas pesquisas Noel descobriu que a mesma veio da sifra, um tipo de
canção antiquíssima, onde o cantador contava uma história sem nenhuma
preocupação rítmica, dividida em quadras, resultou na milonga. Nas obras de
Noel também tinha espaço para as chimarritas, originárias da Ilha da Madeira,
eram músicas sem fronteiras muito tocadas no Uruguai e na Argentina. Ainda,
para o cantor, a deturpação da música das missões , começou ainda com a invasão
dos portugueses para anexar o território, antes espanhol, ao Brasil, ou ainda
com a invasão bandeirante que por sua vez, fez uma deturpação geral aos
costumes da terra e seguindo no mesmo caminho em 1850 a chegada da cultura
europeia trazida pelos colonos aos poucos também foi tornando esquecida as
verdadeiras raízes da música missioneira.
Em 1977, Noel possuía um
programa de rádio em Porto Alegre, com o qual difundia as músicas folclóricas e
também falava dos problemas ecológicos em defesa da paisagem do Rio Grande, lamentava
a urbanização feita em São Miguel, nas Missões, onde árvores seculares eram
derrubadas por tratores, bem como do descaso da secretaria do estado na época
para com o aspecto turístico de São Miguel, onde as ruínas da catedral eram um
grande ponto de visitação.
Mas Noel não vivia
somente da música, mas também da compra e revenda de cavalos. Além do violão,
seu companheiro inseparável, tocava também acordeom de oito baixos, do tipo
fronteira, de poucos recursos sonoros, usado principalmente para executar uma
chimarrita ou um chamamê. Mas seu grande amor era cantar as coisas da terra,
sempre julgava que impedir um cantor de cantar era a coisa mais horrível que
poderia se fazer, e apesar da censura que sofria por vezes a sua música, jamais
perdera a esperança de quem um dia a música missioneira seria valorizada e
difundida, e talvez não imaginasse que mesmo após sua morte sua obra se tornaria
eterna e presente na vida de todos os missioneiros.
V- A
importância de Noel para a musicalidade gaúcha e missioneira.
A importância do cancioneiro guaranítico e da música
de Noel para o nosso país é incontestável, com versos que não caem na vala comum do vulgar, dos
incautos chacais da literatura que devoram criminosamente nossa cultura tão
cheia de riquezas no universo da sabedoria e da poética, o cantor da Bossoroca
sempre buscou levar a mensagem poética
de amor a sua terra e a sua gente por
onde quer que fosse, seja nas viagens Brasil a fora ou nos países do Mercosul,
onde muitas das vezes, buscou através da pesquisa as verdadeiras raízes e a
inspiração para a autêntica música missioneira.
Noel foi e sempre será o cantor do povo, o cantor que
buscava cantar o nativismo de seu chão, para ele não havia diferença entre
cantar para uma minoria ou para multidões , cantava com a alma e com o coração, sua vida foi marcada por
vários momentos e datas as quais tiveram importância fundamental para a difusão
de nossa música:
1941 – Nasce em Bossoroca
1960 – Começa a percorrer
países da América Latina
1968 – Apresenta um
programa na Rádio São Luiz, em São Luiz Gonzaga
1970 – Lança, com Cenair
Maicá, um compacto com as músicas Filosofia de Andejo e Romance do Pala Velho
1971 – Disco Legendas
Missioneiras
1973 – Disco Destino
Missioneiro
1975 – Participa do disco
Música Popular do Sul e lança o álbum LP sem Fronteiras
1976 – Lança, na Argentina,
o disco independente Payador, Pampa e Guitarra
1977 – Disco Noel Guarany
Canta Aureliano Figueiredo Pinto
1979 – Disco De Pulperia
1980 – Disco Alma, Garra e
Melodia
1982 – Disco Para o que Olha
sem Ver
1988 – Disco A Volta do
Missioneiro
1998
– Morre aos 56 anos, em Santa Maria
Acompanhado apenas por
seu violão, Noel entoava em seus causos
a galhardia do gaúcho, com versos belíssimos e ainda rudes em suas
imagens pampeiras eternizou para sempre em suas obras o amor ao seu chão, ou
como ele dizia ao seu “rincão Guarany”.
VI-Homenagens e
tributo a Noel Guarany: Como tudo começou
Em maio de 1998, no Ginásio de esportes Cezar Dirceu
Franco, ocorreu um dos mais significativos gestos de homenagem e reconhecimento
a um filho da Bossoroca, o grande Noel Guarany, já encontrava-se debilitado por
uma doença degenerativa que o impossibilitava de exercer suas funções e também
enfrentava problemas financeiros. Sensibilizados com a situação do grande
expoente da música missioneira, a família Fabrício e o Rotary Club de
Bossoroca, através de Telmo Fabrício Dutra, tiveram a iniciativa de promover
este evento que foi denominado TRIBUTO A NOEL GUARANY. A intenção era mobilizar
a grande legião de fãs, amigos e admiradores de Noel, os jornais descreveram
aquela noite como um fato memorável, com participação de expressivos nomes da
música rio-grandense que juntos se uniram em coro num tributo ao “Cantor da
Bossoroca”. Alguns anos depois, mais precisamente em 2006 foi realizado
novamente a segunda edição desse evento com um novo formato, e em 2007 a
terceira edição com grande participação de artistas locais e regionais.
O “ Tributo a Noel Guarany”, é até hoje um importante gesto de reconhecimento e
homenagem da Buena Terra ao seu ilustre filho, que sempre é reverenciado com
respeito por todos aqueles que o conheceram ou admiram sua obra, e guardado com
carinho na lembrança por todos os momentos que orgulhou sua terra, a sua
Bossoroca.
Espaço Noel Guarany
Localizado no saguão de
entrada da Prefeitura Municipal de Bossoroca o "Espaço Noel Guarany"
resultou da necessidade de mostrar à população e visitantes, objetos pessoais
deste missioneiro, como fotos, letras de musicas, um de seus violões e outros
pertences que sintetizam sua vida e sua arte. A intenção de criar este local
surgiu por ocasião de seu velório, no dia 6 de outubro de 1988, que foi
prontamente aceita por todos, principalmente pelos familiares de Noel, sua
esposa Neidi e a filha Laura. Posteriormente, o Governo Municipal iniciou a
estruturação do local o qual foi inaugurado no dia 6 de outubro de 2007, sendo
que à noite, foi realizada uma das edições do evento em sua homenagem,
"Tributo a Noel Guarany", com a participação efetiva de vários
artistas, simpatizantes e comunidade local e regional.
O Mausoléu de Noel Guarany
Uma justa homenagem
realizada pelo governo Municipal de Bossoroca em 1999, durante a realização da
5ª edição do Manancial Missioneiro da Canção, foi inaugurado o mausoléu onde
repousam os restos mortais de Noel Borges do Canto Fabrício da Silva- Noel
Guarany.
Neste
conjunto, está o mausoléu que é o sepulcro de Noel, elaborado em estilo barroco
do período colonial brasileiro , possuí ainda uma Cruz de Lorena, que marca o
período da civilização Jesuítica- Guarani, tantas vezes citadas na obra de Noel.
O violão, companheiro nas andanças missioneiras, pelo estado e além fronteiras,
também se faz presente junto ao “pala velho” colocado sobre um dos braços da
cruz e que foi tema de uma de suas composições, “Romance do Pala Velho”, e de
outros símbolos que remetem a lembrança de Noel, projetado pelo arquiteto
Plinio Ivar da Rosa, junto ao cemitério municipal, na entrada da cidade.
VII- Bossoroca, a “ Buena Terra” de Noel
Bossoroca,
situada na região das Missões, é uma próspera cidade que tem como base econômica,
a cultura da soja e do trigo, pecuária e a atividade comercial e serviços,
possuindo, segundo o último censo, em 2010, 6.883 habitantes. Faz divisa com os
municípios de São Luiz Gonzaga, Santo Antônio das Missões, São Miguel, Santiago
e Itacurubi. A orígem de seu nome - Bossoroca, vem do vocabulário
Tupy-Guarany, Iby-Soroc, onde a tradução deIby é
terra e Soroc, significa rasgão, chão rasgado, fenômeno que
se pode observar através do efeito das águas em terrenos arenosos, onde se
abrem enormes rachaduras. Durante algum tempo, usou-se a grafia BOÇOROCA.
Posteriormente, em razão de adequação à lingua portuguesa, passou-se a usar a
grafia BOSSOROCA.
No ano de 1965 teve
início o movimento que iria culminar com a emancipação de nosso município. Logo
no início deste movimento, um fato curioso aconteceu. Como não existia área e
população suficiente para a emancipação, foi anexado ao território de
Bossoroca, o rincão do Ivai que então pertencia à São Luiz Gonzaga. Alcançou-se
desta forma, a densidade demográfica necessária. A Comissão Emancipacionista,
foi composta por Marcos Fabricio, Avelino Cardinal, João Dutra e Leoveral
Oliveira.
Este movimento, liderado por homens que queriam uma Bossoroca independente, logo aumentou e foi criada a Comissão que teria por incumbência, promover a emancipação de nosso município. Bossoroca desmembrou-se de São Luiz Gonzaga em 12 de outubro de 1965, quando foi criado o município, através da Lei 5.058, pelo então Governador do Estado Ildo Meneghetti. No entanto, a instalação aconteceu em 04 de março de 1967.
Este movimento, liderado por homens que queriam uma Bossoroca independente, logo aumentou e foi criada a Comissão que teria por incumbência, promover a emancipação de nosso município. Bossoroca desmembrou-se de São Luiz Gonzaga em 12 de outubro de 1965, quando foi criado o município, através da Lei 5.058, pelo então Governador do Estado Ildo Meneghetti. No entanto, a instalação aconteceu em 04 de março de 1967.
VIII- Discografia de Noel Guarany
1970 - Filosofia de Gaudério (com Cenair Maicá)
· 1971 - Legendas Missioneiras
· 1973 - Destino Missioneiro
· 1975 - Sem Fronteiras
· 1976 - Payador, Pampa, Guitarra (com Jayme Caetano Braun)
· 1977 - Canto da Fronteira
· 1978 - Canta Aureliano de Figueiredo Pinto
· 1979 - De Pulperias
· 1980 - Alma, Garra e Melodia
· 1982 - Para o Que Olha Sem Ver
· 1988 - A Volta do Missioneiro (com Jorge Guedes e João Máximo)
· 2003 - Destino Missioneiro - Show Inédito
X- “Eu não sou
um cantor mitológico, eu existo.”:
O legado imortal do eterno “Cantor da Bossoroca”.
Noel Guarany foi sem dúvida um dos maiores cantores e
pesquisadores da nossa terra, um dos grandes “Troncos Missioneiros” como fora
denominado ao lado de Jayme Caetano Braun, Cenair Maicá e Pedro Ortaça, que
sempre defendeu a nossa cultura missioneira, seus valores de simplicidade e
humildade o tornaram único e memorável.
Com sua morte, a música, não só missioneira e gaúcha,
mas também brasileira, perdeu um dos maiores talentos da música nativista,
porém sua obra se tornou imortal, traduzindo-se em uma mensagem de amor ao chão
missioneiro, de respeito e valorização de sua gente, dos índios Guarany e do
patrimônio histórico, cultural e artístico que as missões possuem.
Se vai o “Cantor da Bossoroca”, mas sua obra se
eterniza nos galpões mais simples e humildes, para que nunca se esqueçam do
cantor que cantou sua terra com amor e devoção e soube como poucos resgatar e
difundir a autêntica música missioneira.
Bibliografia
- Caderno Especial “Noel
Guarany o cantor da Bossoroca: vida e obra de um Missioneiro”;
-Programa Vida no Sul:
Noel Guarany. Vídeo;
- Noel Guarany: 15 anos sem o cantor
Missioneiro. Artigo;
-Quando se cala um grande
cantor. Artigo;
-As missões de Noel
Guarany, O Cantador. Artigo. Folha de São Paulo, 7 de julho de 1977;
- Noel Guarany :o mago
que (re)criou a música missioneira. Artigo. João Sampaio.
Revista Ronda Gaúcha/5ª
edição;
-Imagens: Google;
“Mas Noel se foi. Se foi o
corpo, é claro,
porque a alma ainda vive
entre nós e nos embala
e nos emociona com seus versos, por vezes
melancólicos,
por vezes com cheiro da terra vermelha, por
vezes contestadores,
mas sempre verdadeiros e
únicos...”
(Jairo Velloso)
“Eu não
sou um cantor mitológico. Eu existo.
Eu vivo
pelas pulperias...”
Noel Guarany
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