quarta-feira, 17 de abril de 2013

POESIA.....

E a poesia de hoje exalta a figura do gaúcho,refletindo a sua importância, independente  de  sua cor ou classe social , mostrando que ser gaúcho é muito mais que isso...

GAÚCHO

Antônio Augusto Fagundes



Os moços de Porto Alegre 
- escritores, jornalistas, 
aqueles que sabem tudo, 
ou pensam que sabem tudo... 
disseram que já morreste. 
Ou então que estás de a pé, 
sem cavalo, sem bombacha, 
sem bota, espora ou chapéu, 
sem comida e sem estudo. 

Moços da voz de veludo 
e máquinas de escrever 
produzidos no estrangeiro 
dizem que tu, companheiro, 
morreste ou estás mui mal 
porque o êxodo rural 
te atirou pelas sarjetas 
sujo de pó e de barro 
catando a toa cigarro 
nos becos da capital... 

E no entanto, estás vivo! 
Estás vivo e trabalhando 
e produzindo o que comem 
esses moços do jornal. 

Quem é gaúcho, afinal? 

Tenho pra mim que são três: 
um é o peão, o assalariado, 
o operário campeiro. 
O segundo é o estancieiro, 
o empresário rural. 
O terceiro é o camponês 
que se agüenta bem ou mal 
sem ter nem peão nem patrão. 
No mais, é um homem solito, 
um carreteiro, talvez. 

São os homens de a cavalo 
que agarram o céu com a mão, 
rasgando fronteira e chão, 
marcando terneiro a pealo, 
bebendo o canto do galo 
no alvorecer do rincão. 

São três homens diferentes? 
No fundo, os três são um só: 
mesma fala, mesma roupa, 
mesma alma, mesma lida... 
Em resumo, mesma vida, 
mesmo barro e mesmo pó. 

Um mais rico, outro mais pobre. 
Prata, ouro, lata ou cobre 
que importam, se homem é nobre 
e amarra no mesmo nó? 

A bombacha que eles usam 
tem um século. Cem anos! 
Os arreios do cavalo 
são muitos mais veteranos: 
duzentos anos talvez. 
E o chimarrão, o palheiro, 
o churrasco, o carreteiro, 
o truco a tava, as campeiras, 
a gaita, o chote inglês...? 
São dos gaúchos passados, 
já tinham em 93. 

E a mesma mulher gaúcha 
inspira cada vez mais. 

E a paisagem é sempre a mesma. 
Eterna, mas sempre nova. 
Do litoral à fronteira, 
da serra aos campos neutrais. 
Das missões até o planalto 
para frente e para o alto 
como regiões naturais, 
do verde das sesmarias 
até o ouro dos trigais 
- as duas cores da pátria 
que o Rio Grande esparramou 
nas plagas meridionais. 

Porque o Rio Grande é eterno 
como é eterno seu luxo: 
tu não morreste, gaúcho, 
deixa que falem, no mais. 
Deixa que o fraco de sempre 
(o fracassado, o vencido) 
tente te encerrar no olvido 
que o futuro lhe promete. 
E que te chamem de Odete 
os desfibrados morais: 
no lombo do teu cavalo 
estás tão alto, tão alto, 
que a lama preta do asfalto 
não te alcançará jamais! 

Meu pai veio da campanha 
com a mulher e dez filhos 
e veio para abrir trilhos, 
foi sempre um homem de bem. 
Jamais andou mendigando, 
catando lixo nos valos 
ou toco pelas sarjetas. 
Não se esqueceu das carretas 
nem do tranco dos cavalos. 

Nasceu e morreu gaúcho. 
Trabalhou e foi alguém. 

E eu herdei seu evangelho. 
Me orgulho daquele velho 
- eu sou gaúcho também!

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